[ Europe/Lisbon ] 2008/01/16 01:58 "11 de Setembro"
... de 2007:
Chamarrita Pandeireta cai da janela da cozinha, durante uma das suas exibições sádicas. Perante os meus olhos horrorizados e a distância de um breve olhar de terror em stereo, a Chamarrita desaparece no escuro além do peitoral, atravesando cordas de roupa. Cheguei poucos instantes depois dela, voando no bater das minhas chinelas de borracha com 10 centímetros de cunha. Ela deslizava entre as sombras, colada à porta da garagem e às paredes do prédio, até se aninhar num tufo de ervas que por ali crescem. Chamei-a, ela respondeu com um nhâ-nhã alto, que não deixava dúvidas quanto ao alívio e espanto, e fui pegar-lhe ao colo. Agarrou-se a mim com força, a miar, surpreendida, de vez em quando (afinal eu voava novamente, as chinelas como asas escadas acima), e permitiu, ainda de cauda eriçada, que a examinasse e afagasse cuidadosamente.
Recolheu-se ao ninho, ferida apenas no seu orgulho, ligeiramente confusa, e eu pensando que talvez ela tivesse agora só seis pecados, e gasto uma das sete vidas pelo orgulho. Vá lá: não lhe fez mal.
[Desconfio que fui Calígula noutra vida (ou um Papa qualquer dos tempos da Santa Inquisição) e esta gata veio para me limpar o karma.]
Ela ama-me com todas as células do seu pequenino e já robusto corpo de gata com muitas nobres raças bem definidas - resultado de muitos casamentos reais, daqueles que apaziguam as guerras e enchem a barriga do povo -, raças de longe no tempo e no espaço, até linhagem E.T. ela deve ter. E é uma mimadinha caprichosa também, que tem de aprender que reinar não é tiranizar, ainda que se tenham olhos de ouro incrustado de jade e a ponta da cauda seja região autónoma bem demarcada (e rebelde).
Uma sobrevivente de um 11 de Setembro, também numa terça feira. :P
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