Primeiro um gato, na Alemanha, e agora um cão, no Azerbaijão, morreram vítimas do vírus mais perigoso da gripe das aves, o H5N1. O presidente da assembleia geral da Associação de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia, Jorge Cid, considera contudo que os muitos milhares de portugueses donos de cães e de gatos não têm razões para se preocupar, muito menos para desfazerem-se dos seus melhores amigos. “Só a falta de informação pode levar alguém a abandonar um cão por causa da gripe das aves.”
Segundo afirmou ao CM o veterinário, “não há qualquer risco” pois não foram detectados casos de gripe das aves em Portugal. E quando surgirem? “O ideal será que os cães não andem à solta em zonas de risco: ribeiras, lagoas e zonas pantanosas onde possa haver aves mortas.”
Jorge Cid nota que, nessa altura, serão os animais vadios ou semivadios das zonas rurais, que se afastam muito do povoado para caçar – principalmente os gatos – os que, potencialmente, representarão maior risco. “Se os casos começarem a aparecer há que tomar algumas medidas, mas não o abandono ou o abate de animais de companhia.”
O mesmo especialista explica que, na eventualidade de um cão ou de gato contraírem a doença, isso não significa que contagiem os donos. “Numa pandemia, a doença transmite-se entre seres humanos”, lembra, mais uma vez, o veterinário e dirigente associativo.
Neste momento, o assunto dos animais de companhia não merece sequer ponderação das autoridades públicas com responsabilidade no acompanhamento da gripe das aves. Agrela Pinheiro, director-geral de Veterinária, limita-se a marcar a diferença entre as condições higieno-sanitárias de um país como o Azerbaijão, antiga república soviética, e os europeus. “Fora da Europa, as situações são completamente diferentes.”
ASSOCIAÇÕES PREOCUPADAS
Preocupados estão as associações de defesa dos direitos dos animais, que, em circunstâncias regulares, sem ameaça de pandemia, já fazem enorme esforço para evitar que os donos os abandonem. Miguel Moutinho, da Animal, critica aqueles que, por causa dos receios de contágio pelo H5N1, tentam impedir pessoas bem intencionadas de alimentar cães e gatos vadios.
Embora entendam não existir razão para alarme, os dirigentes da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal (LPDA) sugerem, como medida de prevenção, a todas as pessoas que têm animais de companhia que não os deixem andar soltos.
À ESPERA DA MIGRAÇÃO DO OUTONO
O presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) desdramatizou o risco de aparecerem, por agora, animais infectados com gripe das aves em Portugal, salientando que as probabilidades serão mais elevadas no Outono.
“Neste momento não há registo de aves selvagens infectadas em África, o que representaria maior perigo, já que o fluxo migratório para Portugal nesta altura se faz de Sul para Norte. É na Europa Central e do Norte que estão a aparecer as aves infectadas, o que significa que estão a afastar-se de nós e só regressam no Outono”, explicou Luís Costa, à margem do I Encontro de Vigilantes de Zonas Importantes para as Aves.
Ontem, as autoridades de Israel confirmaram a presença do vírus H5N1, a estirpe mais patogénica da gripe das aves, em perus encontrados mortos. Informaram ainda que duas pessoas que estiveram em contacto com as aves se encontravam em observação. O vírus foi encontrado em duas comunidades (kibbutz) no Sul de Israel, perto da Faixa de Gaza.
SABER MAIS
CONDIÇÕES
A Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (Real Sociedade para a Prevenção da Crueldade com os Animais) – a mais antiga associação de defesa dos animais do Mundo, fundada, em Inglaterra, em 1824 – lembra que embora cães e gatos possam ser infectados com o H5N1, isso só acontece quando o nível de exposição ao vírus é muito elevado e o sistema imunitário do animal se encontra fragilizado.
LAVAR AS MÃOS
Na relação com os animais são recomendados cuidados básicos de higiene. É importante lavar as mãos com sabão depois de tocar um animal, especialmente antes de tocar o rosto ou preparar refeições.
REGISTO DE AVES
O presidente da Associação Nacional de Freguesias (Anafre) defendeu ontem a necessidade de ser marcada uma data, de preferência no final de Abril, para a conclusão do registo de aves domésticas.
PORTUGUÊS INVENTA FRALDA PARA CANÍDEOS
Felisberto Matos, português de 54 anos a viver no Reino Unido, não pensou na gripe das aves, mas a ideia de ‘vestir’ os cães com uma espécie de fralda descartável pode revelar-se oportuna, uma vez que o contacto com as fezes de animais infectados constitui – entre as aves – uma via de contágio.
Actualmente, nenhum perigo ameaça os animais de companhia, mas, na eventualidade de isso acontecer, será da maior conveniência que os cães não deixem na rua os cocós para os outros cheirarem.
Felisberto Matos, que trabalha numa clínica de massagens de recuperação, está à espera de receber a patente da invenção, que ao lado reproduzimos esquematicamente.
Fonte:
http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=195400&idselect=192&idCanal=192&p=94
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